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Investir em IPO pode ser uma armadilha? Estudo mostra o que acontece após a estreia

Entre 2004 e 2024, apenas 34% das empresas que abriram capital superaram o principal índice da bolsa brasileira. Setores de seguros, carnes e saúde lideram em valor de mercado.

Um levantamento inédito divulgado pela Economatica revelou que a maioria das empresas brasileiras que realizaram uma Oferta Pública Inicial (IPO) nos últimos 20 anos teve desempenho inferior ao Ibovespa. O estudo, intitulado Do Lançamento ao Mercado: O Desempenho das Empresas Brasileiras Pós-IPO (2004–2024), analisou 224 companhias que abriram capital na B3 entre janeiro de 2004 e março de 2024, traçando um retrato preciso sobre os desafios de crescimento e valorização enfrentados no mercado de capitais brasileiro.

Apenas um terço supera o índice de referência

Segundo os dados da Economatica, apenas 76 das 224 empresas (34%) conseguiram superar o desempenho do Ibovespa desde sua estreia na bolsa. Já 148 empresas (66%) apresentaram performance inferior ao principal índice do mercado brasileiro. O resultado evidencia que, apesar da expectativa de crescimento atrelada ao IPO, grande parte das companhias não consegue entregar valorização superior ao índice de referência.

O estudo comparou o retorno das ações desde o IPO até 1º de março de 2024, considerando reinvestimento de dividendos, em relação ao retorno do Ibovespa no mesmo intervalo.

Ciclos de IPO refletem o humor do mercado

A pesquisa também identificou quatro ciclos de maior atividade de IPOs: 2006-2007, 2010-2011, 2020 e 2021. O primeiro ciclo, impulsionado pela alta liquidez global e crescimento econômico, resultou em 44 ofertas públicas em 2007, maior número da série histórica. Já o último pico, em 2020 e 2021, coincidiu com a queda da taxa básica de juros (Selic) para mínimas históricas, o que favoreceu o apetite dos investidores por renda variável.

Contudo, nem sempre os momentos de maior volume de IPOs coincidiram com maior desempenho. Em 2021, por exemplo, 46 empresas abriram capital, mas 74% delas acumulam perdas até hoje.

Crises afetam fortemente o retorno das ações recém-listadas

A volatilidade do cenário macroeconômico brasileiro também foi determinante para o desempenho das empresas pós-IPO. O estudo aponta que períodos de crise, como a crise financeira de 2008, o impeachment de 2016 e a pandemia de COVID-19 em 2020, geraram perdas relevantes para empresas que estrearam na bolsa nessas épocas.

O retorno médio das ações no ano de IPO costuma acompanhar o humor do mercado: quando o Ibovespa apresenta queda, os IPOs tendem a performar pior, o que reforça a correlação entre cenário macro e desempenho das ações.

Empresas que mais se valorizaram

Apesar do cenário geral de fraco desempenho, algumas companhias se destacaram positivamente. Entre os maiores cases de sucesso desde o IPO estão:

  • JBS (JBSS3) — valor de mercado atual de R$ 80 bilhões;

  • BB Seguridade (BBSE3) — R$ 70 bilhões;

  • Rede D’Or (RDOR3) — R$ 57 bilhões;

  • Raia Drogasil (RADL3) — R$ 45 bilhões;

  • XP Inc. (XPBR31) — R$ 38 bilhões.

Essas empresas conseguiram escalar suas operações, gerar lucros consistentes e manter a confiança dos investidores ao longo do tempo, provando que, mesmo em um cenário desafiador, o IPO pode ser uma porta de entrada para histórias de sucesso.

Setores com maior valor de mercado

Quando agrupadas por setores, os destaques em valor de mercado são:

  1. Seguros – impulsionado por BB Seguridade e Caixa Seguridade;

  2. Carnes e derivados – liderado por JBS e Marfrig;

  3. Serviços médicos e hospitalares – com destaque para Rede D’Or e Mater Dei.

Esses segmentos foram menos impactados por crises cíclicas e se beneficiaram de tendências estruturais como envelhecimento da população, aumento da demanda por proteína animal e expansão do setor de seguros.

O cenário em 2024: apenas dois IPOs até março

O ano de 2024 começou com um mercado de capitais ainda tímido. Até março, apenas duas empresas realizaram IPOs:

  • Vitru Educação: grupo que reúne as marcas UNIASSELVI e UniCesumar, com foco em ensino a distância, atendendo mais de 900 mil alunos;

  • Automob: empresa do setor automotivo, subsidiária do Grupo Simpar, que também controla Movida, JSL e Vamos.

Ambas apostam em segmentos com forte penetração regional e estratégias de consolidação de mercado.

 

Fonte: Economatica Insight – Desempenho das Empresas Brasileiras Pós-IPO (2004–2024)

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