Durante muito tempo, investir na Bolsa de Valores foi considerado algo exclusivo para grandes investidores, empresas ou até mesmo profissionais do mercado financeiro. No entanto, essa realidade vem mudando. Segundo um estudo de 2023, houve um crescimento de 23% no número de novos investidores. Ainda assim, quando analisamos o cenário geral, percebemos que metade dos brasileiros não investem, e dos que investem, mais da metade ainda preferem a tradicional caderneta de poupança.
“Poupança ainda compõe a carteira de 40% dos brasileiros com alta renda e conhecimento financeiro”
Esse dado reflete a persistente percepção de que investir em ações é sinônimo de sorte, riscos imprevisíveis ou até mesmo de um jogo de apostas. Na verdade, muitas pessoas enxergam a Bolsa de forma especulativa, acreditando que basta comprar na baixa e vender na alta para ganhar dinheiro, onde se tenta adivinhar os fundos e topos do mercado, e comprando ações sem saber o seu valor, ou mesmo não se importando com isso. Esse pensamento equivocado contribui para o estigma em torno do mercado acionário. Investir em ações, no entanto, deve ser entendido como se tornar sócio de um negócio.
Porque o brasileiro ainda é tão “cauteloso”
A caderneta de poupança, apesar de oferecer retornos muito baixos, continua sendo o investimento mais popular entre os brasileiros. Isso se deve à sua simplicidade, segurança e liquidez imediata. É um instrumento que não exige conhecimento técnico ou tomada de riscos, o que a torna atrativa para um público que muitas vezes carece de educação financeira.
Por outro lado, o mercado de ações oferece oportunidades muito mais atrativas para quem busca crescimento patrimonial no longo prazo. Diferentemente da poupança, que tem rendimentos limitados, investir em ações pode gerar altos retornos por meio de valorizações e dividendos, desde que seja feito de forma planejada e com uma perspectiva de longo prazo.
Como Funciona o Mercado de Ações?
De maneira simplificada, empresas vendem “pedaços” de seu capital — as ações — para arrecadar recursos que serão utilizados em expansão, desenvolvimento de projetos e melhorias operacionais. Quem compra essas ações torna-se sócio da empresa e participa de seus resultados financeiros. Isso significa que os lucros gerados pela empresa são divididos proporcionalmente entre os acionistas, na forma de dividendos, e o valor das ações tende a aumentar à medida que a empresa cresce e gera mais valor.
Um exemplo prático é a Caixa Seguridade (CXSE3). Em março de 2022, um investimento de R$ 8.333,00 em 1.000 ações dessa empresa teria gerado, um ano depois, um patrimônio de R$ 14.479,00, além de R$ 1.862,40 em dividendos. Caso esses dividendos tivessem sido reinvestidos, o montante total seria de R$ 16.341,40. Esse exemplo ilustra como o mercado acionário pode ser vantajoso para investidores que adotam uma estratégia consistente.
Abertura de Capital e Tipos de Mercado
Para que uma empresa comece a negociar suas ações na Bolsa, ela precisa passar pelo processo de IPO (Oferta Pública Inicial), que marca a estreia de uma empresa no mercado de ações. Esse processo consiste na venda inicial de ações ao público, permitindo que a empresa arrecade recursos para investir em expansão e projetos estratégicos. O IPO é uma alternativa vantajosa para as empresas, especialmente em um cenário de altas taxas de juros para financiamentos.
- Mercado Primário: Quando uma ação é vendidas no mercado primário, significa que ela está sendo vendida pela primeira vez aos investidores. As ações são vendidas diretamente pela empresa aos investidores. Nesse caso, os recursos arrecadados vão para o caixa da empresa e são usados em projetos de crescimento. Também existe o “follow-on“, Outro tipo de oferta pública que representa novas emissões de ações por empresas que já estão listadas na bolsa.
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Mercado Secundário: Onde as ações são negociadas entre investidores, sejam estrangeiros, pessoas físicas, institucionais, dentre outros. Aqui, o dinheiro não vai para a empresa, mas sim para o vendedor das ações. Esse mercado é fundamental para garantir liquidez, permitindo que investidores comprem e vendam ações com facilidade.
Ações Ordinárias e Preferenciais
As ações negociadas na Bolsa podem ser classificadas em dois tipos principais:
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Ações Ordinárias (ON): Geralmente final 3, essas ações conferem direito a voto nas assembleias gerais da empresa, permitindo ao investidor participar de decisões estratégicas, como eleição de conselhos administrativos e fusões. Outro atrativo das ações ordinárias é o “tag along”, um mecanismo que protege os acionistas minoritários em caso de venda do controle da empresa, garantindo que eles possam vender suas ações pelas mesmas condições oferecidas ao acionista controlador. Apesar de todos esses direitos, as ações ON não tem preferência na distribuição de dividendos.
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Ações Preferenciais (PN): Diferentemente das ordinárias, as ações preferenciais não oferecem direito a voto. No entanto, elas garantem prioridade na distribuição de dividendos, que geralmente são mais altos e frequentes. Elas distribuem pelo menos 10% a mais em dividendos, do que pagos pelas ações ordinárias. Por serem mais acessíveis em termos de preço, essas ações atraem investidores que buscam retornos regulares.
Numa sociedade anônima é por meio do voto que o acionista tem direito legal de controle da organização
Ambos os tipos de ações são negociados da mesma forma na Bolsa, mas podem apresentar diferenças em termos de liquidez e estratégias de investimento.
Gerenciamento de Risco
Investir no mercado de ações envolve riscos, mas existem estratégias que podem minimizá-los e oferecer maior segurança ao investidor. Uma das formas mais eficazes de gerenciar riscos é conhecer o próprio perfil de investidor:
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Perfil Conservador: Focado na segurança do capital, prioriza investimentos de baixo risco, como renda fixa ou ações de empresas consolidadas e estáveis.
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Perfil Moderado: Disposto a aceitar riscos moderados para buscar melhores retornos, combina ações de setores diferentes e produtos de renda fixa.
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Perfil Arrojado: Tolera riscos elevados para alcançar maiores ganhos, investindo em empresas emergentes ou setores mais voláteis.
Além disso, compreender os diferentes tipos de riscos é essencial para tomar decisões informadas. O Risco Sistemático, também conhecido como risco de mercado, é inerente a fatores macroeconômicos, como alterações na taxa de juros, inflação ou crises econômicas globais. Por ser generalizado, esse risco não pode ser eliminado, mas pode ser gerenciado com estratégias adequadas.
Por outro lado, o Risco Não Sistemático é específico de setores ou empresas. Por exemplo, mudanças em preços de commodities afetam empresas de energia e mineração, enquanto alterações no setor imobiliário impactam construtoras. Esse risco pode ser mitigado pela diversificação da carteira, investindo em empresas de diferentes setores e tamanhos.
Diversificar a carteira de investimentos não apenas reduz o impacto de riscos específicos, mas também aumenta as chances de retorno estável no longo prazo. Ao distribuir seus recursos entre ações de diferentes segmentos, o investidor protege seu patrimônio contra oscilações isoladas e amplia suas possibilidades de sucesso.
Dicas para Investidores Iniciantes
Caso pretenda iniciar seus investimentos, estas dicas poderão ser um diferencial em sua jornada:
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Pense como um sócio: Ao comprar uma ação, você está adquirindo uma parte de um negócio. Analise a saúde financeira e a estratégia da empresa antes de investir.
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Estude as empresas: Utilize o site de Relações com Investidores (RI) para acessar relatórios financeiros, comunicações ao mercado e informações sobre a performance da empresa.
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Tenha paciência e disciplina: Invista com uma perspectiva de longo prazo, evitando tomar decisões impulsivas baseadas em oscilações diárias.
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Evite especulação: Focar em ganhos rápidos pode levar a perdas significativas. Baseie suas decisões em análises fundamentadas.
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Diversifique: Não concentre seus recursos em uma única ação, nem mesmo setor!
Muito bom!